Câncer… Por que comigo?
Tempo De Leitura: 4 minutos
Júlia uma mulher independente, de personalidade forte e ambiciosa. Com muito esforço e trabalho conseguiu criar duas filhas e se tornar uma empresária de sucesso. Sua constituição como sujeito se deu a partir dos valores materiais, por isso, sua vida teve como foco principal “o ter” sem se preocupar “em ser”.
Um acontecimento inesperado marca sua história e invoca uma pergunta: “por que comigo?”. Diagnosticada com câncer Júlia se vê sem chão. Inconformada, por ser jovem e muito bela, se isola durante um fim de semana para tentar assimilar o golpe recebido, mas um encontro surpreendente trás novo sentido à sua vida e ela vê a possibilidade dessa tragédia ser apenas um novo caminho.
A seguir transcrevo uma pequena parte do capítulo quatro dessa obra literária.
Câncer… Por que comigo? Câncer… Por que comigo? Câncer… Por que comigo?
Com esse cenário maravilhoso a sua volta Júlia começa a pensar em sua família e algumas perguntas vinham em sua mente. Se eu morrer quem vai cuidar de minhas filhas? O que eu fiz da minha vida? Porque eu fui casar com uma pessoa que não se importava comigo? Porque eu tinha um pai que não valia nada?
Com essas reflexões, lembrou-se de sua amiga Marilda lhe dizendo “pense um pouquinho a respeito de Deus”, e mais perguntas surgiram. Se Deus é maravilhoso e se ele é meu pai, por que eu estou com câncer? Se Deus é perfeição e as escrituras dizem que somos seus filhos, por que os hospitais estão cheios de doentes terminais? Porque a pobreza no mundo? A fome na África? A guerra no Oriente Médio? Que Deus é esse? Quem sou eu? Da onde eu vim? Para onde vou? Refletindo sobre essas perguntas sem ter uma explicação adormeceu.
Buzzz! Buzzz! Buzzz! Júlia acorda se debatendo e Cataplam! Cai da rede assustada, levanta tentando entender o que estava acontecendo e vê três abelhas voando na varanda. Já reestabelecida da queda vai até a cozinha preparar algo para o almoço.
Após a refeição, Julia começa a observar com mais detalhe a bela decoração da casa de sua amiga e descobre uma vitrola antiga, fica curiosa para ver se ainda funciona, mexendo em uma estante encontra uma seleção de MPB um único disco de vinil, e falando sozinha diz:
– Opa! Parece que estou com sorte, vamos ver se essa coisa ainda funciona.
Câncer… Por que comigo? Câncer… Por que comigo? Câncer… Por que comigo?
Com muita delicadeza, pois aquela vitrola aparentemente fazia um bom tempo que estava fora de uso era somente uma peça decorativa.
Click, Júlia liga a vitrola – Hã! Não é que funcionou! Pula de alegria, corre e se joga no sofá como se fosse uma criança que fez uma grande descoberta.
A primeira música a tocar é casinha branca composta e cantada pelo cantor Gilson. Essa música a fez chorar e lembrar-se de sua mãe, mesmo sendo de nacionalidade alemã ela adorava aquela música.
A segunda a tocar a fez viajar ainda mais em sua infância, pois era a música Pai, de Fábio Junior, ela acompanhou cantando junto e no final disse para si mesmo – como eu gostaria de dizer tudo isso para ele, mas infelizmente eu não tive um bom pai, prefiro esquecê-lo.
Ela ouviu todas as músicas do vinil sem se levantar do sofá, em seguida continuou sua leitura e quando percebeu já podia ver através da janela da sala o sol se escondendo atrás do rancho na colina.
Às 19h00 Júlia resolve preparar apenas uma salada e um suco para o jantar, em seguida senta-se em um gramado em frente da casa e fica observando o anoitecer, para sua surpresa consegue ver as primeiras estrelas cintilarem no céu, fica em estado de êxtase vendo aquela maravilha da natureza.
De repente algo chama a sua atenção.
Câncer… Por que comigo? Câncer… Por que comigo? Câncer… Por que comigo?
Novamente a luz no rancho, ela abre e fecha os olhos por três vezes para ver se realmente não estava imaginando, mas a luz persistia e foi tomada por um pouco de medo e insegurança.
Não poderia deixar aquela luz como uma dúvida em sua mente, era preciso fazer algo. A escuridão já tomava conta da noite e com isso a luz aumentava cada vez mais o seu brilho.
O medo do desconhecido faz com que ela tenha a sensação de impotência perante aquilo que nunca experimentou. Nesse momento, ela não sabe o que fazer e ao mesmo tempo lembrava-se de um curso de aperfeiçoamento que fez antes de abrir sua loja no shopping, o professor falava:
A melhor forma de vencer qualquer tipo de obstáculo é enfrentá-lo. O mais adequado talvez seja eliminarmos o medo de nossas vidas e colocarmos algo melhor no lugar, seguir em frente, criar coragem suficiente para encará-lo. Não procrastine situações que o incomodam. Quando você enfrenta o desconhecido, sua autoestima sobe e você cria coragem para superar desafios com mais facilidade.
Com esses pensamentos em mente quando se deu conta Júlia já estava terminando de subir a colina.