No atual momento da sociedade mundial, onde se vê explicitamente uma inversão de valores, o consumismo é prioridade número Um. Para muitas pessoas as academias se tornaram um templo sagrado na busca de um corpo perfeito.
Nesse cenário podemos observar um número cada vez mais crescente da busca por explicações biológicas e fisiológicas que possam explicar os sofrimentos psíquicos.
Muitas pessoas buscam um profissional da medicina para diagnosticar algum distúrbio no seu organismo que justifique sua ansiedade, estresse, depressão, fobias, síndrome do pânico e transtorno bipolar.
Como vivemos a era das relações virtuais, do imediatismo e a do “faz de conta”, as pessoas buscam um “pozinho mágico”, um alívio imediato para os males da alma. Assim, encontram na medicalização uma rota de fuga para seus males.
Nessa busca desenfreada por soluções imediatas as pessoas depositam sua confiança em receitas milagrosas e rápidas que possam aliviar o seu desconforto, sem procurar encontrar respostas para adquirir reações positivas diante das dificuldades do seu dia.
Sem eliminar a causa e remediando o efeito, o indivíduo vive um ciclo negativo, sobrecarregando os consultórios médicos nas unidades básicas de saúde. São milhares de consultas agendadas pelo Sistema único de Saúde (SUS) tão somente para pegar uma nova receita. Em muitas situações não se faz necessária nem a presença do paciente.
A dependência da medicação (droga) já faz parte da vida desses indivíduos. Para muitos profissionais de saúde é mais fácil e cômodo manter essa dependência prescrevendo uma nova receita do que procurar uma nova alternativa para a resolução do problema do seu paciente.
A medicalização da vida e do sofrimento psíquico tornou-se uma prática comum. Todos os dias aumenta o número de pessoas que saem dos consultórios com as receitas milagrosas para a tristeza de uma perda, uma desarmonia conjugal, uma briga com o chefe, um luto não elaborado ou para a ansiedade de um futuro incerto.
Podemos observar por trás dessa triste realidade a pressão exercida sobre os profissionais médicos pelos laboratórios fabricantes desses medicamentos. Infelizmente alguns desses profissionais entram no jogo e recebem “gratificações” em forma de viagens em cruzeiros, participações em congressos internacionais e férias com a família na Disney. Para isso não pode esquecer de prescrever a receita de Rivotril, Prozac e afins.
Quem faz uso desses medicamentos vivem com seus neurônios anestesiados perdendo parcialmente sua sensibilidade neurológica. Esses medicamentos são prescritos pelos médicos para anestesiar o enfrentamento da realidade do usuário. Esses psicotrópicos tem o objetivo de mascarar as emoções e evitar que o paciente enfrente suas angústias familiares, profissionais e de relacionamentos nos locais de trabalho com os amigos e parceiros.
Assim sendo, essas crianças são rotuladas de depressivas, portadores de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade) ou de TDO (Transtorno Desafiador Opositor).
Alguns profissionais da saúde alertam dos possíveis riscos do uso indiscriminado da substância metilfenidato, mais conhecida como Ritalina. Segundo os recentes dados o seu consumo aumentou mais de 800% no Brasil nos últimos dez anos.
Para alguns especialistas, o metilfenidato pode causar uma dependência química, aumentando os riscos de crises psicóticas e suicídios. O seu consumo por um período longo afeta o sistema cardiovascular causando taquicardia, hipertensão e até possíveis paradas cardíacas.
O que podemos observar neste contexto é que muitos profissionais ao fazer o seu diagnóstico não leva em consideração o ser humano como um todo. Para Friederich Salomon Perls, Psicoterapeuta e Psiquiatra de origem judaica, o homem é um organismo unificado, não podendo ser admitida a divisão entre mente e corpo, reconhecendo que os pensamentos e ações são feitos da mesma matéria, sendo as ações físicas inter-relacionadas às ações mentais.
No momento dos diagnósticos muitos profissionais não levam em consideração que o comportamento de uma pessoa é o reflexo de como ela está na sua relação com o seu mundo interior.
Se esses comportamentos estão totalmente fora do que é considerado “normal” pela sociedade, é bem provável que essa manifestação seja um pedido de socorro. Essas pessoas estão vivendo um grande sofrimento psíquico.
Por outro lado “nadando contra a correnteza” das receitas milagrosas e instantânea, está o Psicólogo ou o Psicoterapeuta que através de uma escuta cuidadosa poderão ajudar o indivíduo a despertar o desejo de movimento e atualização em direção à saúde, bem como, trabalhar o ser humano de forma concreta e não fragmentada. Levando em consideração aspectos físicos, emocionais, mentais e relacionais.
Não podemos mais continuar com a medicalização remediando o efeito e persistir anestesiando os sintomas, estamos apenas silenciando o sujeito. Assim, para essas pessoas esses comportamentos considerados fora dos padrões representa a única possibilidade de serem ouvidas e de expressarem seus sofrimentos. Assim, muitos desses indivíduos estão em busca de alguém que possa ajudá-los a extrair desses sofrimentos os significados presentes em seus sintomas.
Para finalizar gostaria de esclarecer que a medicação quando prescrita de forma criteriosa e responsável por um profissional comprometido com sua profissão e principalmente com a saúde de seu paciente torna-se um importante aliado no combate a esses males da alma.
Podemos ver uma luz no fim do túnel. Ainda existem profissionais comprometidos com a saúde de seus pacientes. São médicos onde podemos ver sua competência técnica e científica, sem deixar de evidenciar o atendimento sempre humanizado.
Mas no combate a esse sofrimento não devemos restringir o tratamento somente a uma resposta medicamentosa. Sendo assim, devemos olhar além do corpo físico. Propor uma experiência subjetiva para que o paciente possa construir um significado para o seu sofrimento.
Portanto, é importante que o sujeito com esse sofrimento busque evidenciar o significado inconsciente de suas palavras, de suas ações e das suas produções imaginárias. Esse tratamento psicoterápico é fundamental para que o sujeito não se torne mais um na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) ou em clínicas privadas para renovar a sua receita.
Um grande abraço e gratidão sempre.
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Boa tarde, o artigo expressa muito bem a realidade em que vivemos, sintomas mascarados por medicamentos, pura ilusão! Parabéns!!!
A indústria farmacêutica perde em faturamento somente para a indústria bélica, portanto sendo a segunda no mundo em faturamento. Muitas pessoas já tem a medicação como um novo elemento no seu cardápio, não pode faltar às pílulas coloridas que promete aliviar a dor de cada parte do corpo.
Abraços.
Problema é quando o psicólogo insiste em te passar medicamentos mesmo quando vc se recusa
Olá Simone! Em muitas situações a medicação se faz necessária no primeiro momento, mas se tornar refém de medicamento já é um distanciar da resolução do problema. Infelizmente ainda existe profissionais que prefere a medicação do que entender qual a verdadeira mensagem que está por da crise.
Abraços.